Há artistas que são pura expressão. Transformam sentimentos em pintura. É o caso de Julia Pereira. O seu trabalho visual é uma jornada por diversas maneiras de se relacionar com o mundo com uma gestualidade ampla, caracterizada por um discurso fundamentado no movimento. 
A liberdade de se manifestar se dá pela maneira como ocorre o trabalho com os materiais. Existem alusões a corpos e uma força orgânica que evoca a natureza em forma de explosões de cor. O visceral se manifesta não apenas nos movimentos propostos, mas também na seleção das cores. 
O vermelho comunica um amor pela vida, mas também existem os verdes que remetem a construções visuais que trazem à mente folhas. Não se trata de encontrar nos traços uma correspondência com aquilo que se convenciona chamar realidade, mas de mergulhar nas dinâmicas propostas pela artista.
Cada obra tem uma musicalidade que se assemelha a uma partitura. Existe um fazer interno, caracterizado pelo dar à luz, via tintas, às próprias entranhas, em intensas criações regidas por uma necessidade de falar visualmente que aponta para uma intensidade de transbordamento do cotidiano na arte e vice-versa. 

Oscar d'Ambrósio
2022